Os Homens das Obras


Obras em Kuningan, Jacarta.
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São 23:25. É dia 22 de fevereiro de 2011. Barulho de obras. Há várias obras a decorrer à volta da área onde vivo, aqui em Jacarta. Oiço-os pela noite fora, esses homens de berbequim gigante entre os braços. Nas noites piores, de insónia, oiço-os até horas impossíveis, o que me leva a crer que trabalham 24 horas por dia, com pequenos intervalos interpostos. Como é possível gostar de um país onde se permite explorar desta forma o outro? E isto aos olhos e aos ouvidos de toda a gente, que quanto muito se queixam por si mesmas, por não conseguirem dormir e pelo desconforto de testemunhar tal barbaridade, e não por refletirem na pesada condição dos homens subalimentados e indefesos que esticam os seus músculos indóceis e suam as suas faces sob grandes óculos de segurança. Estou cansada de um mundo onde as pessoas são apaixonadas por si próprias. Apesar de tudo, aqui é mais raro de encontrar, excluindo os ocidentais – que são extremamente vaidosos, num lugar onde é tão fácil ser rico e exibir riqueza e “status”. Os indonésios, no geral, são pobres, e têm famílias tão grandes e tantos amigos, vizinhos – têm una notória inclinação para a empatia, para uma forma de pensar holística, de interdependência entre os seres, em detrimento do espírito competitivo e individualista do homem moderno ocidental, capitalista. Esta cidade cansa-me, este país cansa-me, e até estas pessoas me cansam por vezes – mas não há dúvida de que me estão a ensinar – na sua linguagem silenciosa, tímida e difícil – o que é e como é viver entre os demais humanos, sem a privacidade e a reserva que me caracterizam.