solidão reconfortante



Hoje fui jantar a um restaurante indiano e senti-me tão bem. Descalcei-me, comi nan e paneer, bebi uma cerveja. Na televisão passava um canal indiano. Olhava distraída. Ia escrevinhando no diário.
Em flash, à minha mente - certos quadros do Hopper. Sempre gostei dele e não acho os quadros tristes.
Há qualquer coisa de comovente e de acolhedor na solidão nestes lugares, como o restaurante Koh-e-noor onde eu estava; de profundo mesmo. Como se compreendesse desta forma tão simples o que é a interdependência entre todos os seres e em que consiste esse fio frágil e inquientante de amor e entendimento entre a gente.
Estava sozinha num restaurante quase vazio; quatro indianos numa mesa, um casal noutra e uma família numa outra mesa grande. Essas pessoas, pelo simples facto de estarem ali, de existirem na mesma vida que eu e coincidirem comigo num determinado lugar e momento do mundo, fizeram-me feliz e eu senti-as como membros da minha família. Às vezes fechava os olhos e agradecia pela vida, pela nossa vida, pelo paneer quente e macio que dançava entre os meus dentes, pela cerveja que enche e alegra, pela televisão que distrai, pela surpresa de sentir e pensar estas coisas que não cabem no meu diário nem nesta carta e para as quais não encontro sempre as palavras certas ou quaisquer palavras.