hantu-do-sol

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Cheguei à quarta.
Arranjei uma password tão tramada para entrar na minha conta do google que nunca a consigo escrever bem logo à primeira.
Hoje, foi à quarta.

Antes de mais, penso na minha mãe, que chegará depois de amanhã ao Oriente, onde cruzará os seus braços com os meus braços. Troquei umas breves palavras com ela, há pouco, senti-a agitada, sensível, enfim, nada que uma pisciana não deva ser, fazendo as últimas compras para responder aos meus pedidos extravagantes de atum e polvo em lata e outras conservas, gel de lavagem para peles acneicas, sensodyne para os dentes, liquifilm para os olhos, chocolates portugueses para amizades indonésias, vinho (tinto e branco), filmes e livros, um sem-fim, tadinha da Mami... , e revi-a assim:

Séria, concentrada nas coisas mundanas, neste caso - congeladas - ... mas sempre com um certo estilo.
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Raramente dou pelo pôr-do-sol aqui. Aconteceu-me prestar maior atenção hoje, porque estava mais livre e porque há uns dias, falando das várias possibilidades do verbo "pôr" em aula, mencionei o "Pôr-do-Sol" - e fiquei angustiada (terão eles notado?! a minha angústia? a minha ignorância?). Angustiada, porque me apercebi de que eu não sabia o que era um pôr-do-sol na Indonésia. É verdade que aqui o crepúsculo dura um estalar de dedos. O crepúsculo equatorial... Rápido. E entre arranha-céus, então, rapidíssimo! Mas hoje estive à coca.
Vejam o que eu vi da minha varanda:


Um faixa alaranjada por detrás de uma cúpula moderna e de edifícios de apartamentos variegados.
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A mesma luz alaranjada reflectida num arranha-céus espelhado, perto de uma construção que costumo admirar com deleite da janela: reparem que à esquerda estão dois edifícios que parece que se beijam - o de cá é inclinado, como a Torre de Pisa.
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A mesma luz alaranjada reflectida na curva de um canal - que não é mais do que um esgoto aberto. Apesar de os holandeses terem premeditado os canais de Jacarta de forma bem diferente - como os de uma Amesterdão ou de uma Veneza... Mas que aqui não são mais do que lixo líquido. Ao lado, um cemitério, que eu quase todos os dias atravesso de ojek (os ojek invadem as ruelas de terra batida do cemitério como atalhos para fugir do trânsito das avenidas principais). [Na outra noite, vindo da estação Tebet para casa de ojek, como habitual, atravessámos aquelas passagens estreitas e como que proibidas... O rapaz-ojek gritava: "hantu!!", o que significa, em português, "fantasmas!!". Os indonésios são muito supersticiosos. Mas fazem tudo para escapar ao tráfego.]
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Eis o pôr-do sol da minha varanda em Jacarta.
Hoje apreciei-o. E achei-o estranhamente belo.