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Estava aqui ao computador, há seis horas atrás. Olhei para a varanda e vi as costas carnudas da minha mãe, encostadas contra o vidro. Ela fumava um cigarro, suspensa assim no ar. Olhei e gravei, pensando "esta é a última imagem que vou gravar da minha mãe aqui". E assim foi. Depois disso, aconteceram muitas coisas, de que me lembro, mas nenhuma imagem dessa corrente de acontecimentos ficou gravada na minha memória. Eu gosto muito da minha mãe. Quando era pequenina, escrevia-lhe poemas de amor e dizia que queria casar com ela. Há relações que são muito especiais. Lembro-me de a minha amiga Vina me ter dito, há uns tempos, "há pessoas que foram feitas para se conhecerem", e eu concordo com ela. De repente, a casa ficou um bocadinho calada. Lembrei-me de um filme querido, o Chungking Express, do Wong Kar-wai, onde o amante abandonado espremia as toalhas, os tapetes, as camisolas, e passava a esfregona pelo chão, incessantemente - porque a casa chorava uma ausência muito grande, toda a casa, e todas as pequenas coisas dentro da casa, choravam.
Assim chora a minha casinha pela Mámi, que veio com cigarros e com alguns suspiros de calor e de impaciência, mas também com a sua força de Mãe - veio passar a Mão pela nossa cabecinha.
Assim chora a minha casinha pela Mámi, que veio com cigarros e com alguns suspiros de calor e de impaciência, mas também com a sua força de Mãe - veio passar a Mão pela nossa cabecinha.