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sempre essa sensação de estar em atonia no mundo, de não ter emoções, ou de – quando as tinha – as ter impropositadas, desconexas, incoerentes, [adquiridas dos livros que lia e dos filmes que via?]. por vezes, temia a sua própria sensibilidade (inominável), tantas vezes disfarçada de reflexões sérias e auto-infligidas, para que se sentisse mais gente e mais amigo dos amigos e da família. não sabia o que amava. pelo menos, não sabia ter que mostrar o que chamam amor, algo para o que as palavras não seriam dignas. esticava-se num mundo imenso de escuridão e de beleza pura, como o céu da noite, num silêncio apenas angustiante em querendo explicá-lo. sentia-se mal e bem sozinho. para se sentir mal , auto-imprimia na sua consciência essa necessidade – e assim sentia-se em sintonia com o mundo. não sabia o que era o amor. não sabia o que era a honestidade ou a sinceridade. mas não era mentiroso nem desonesto, e era até muito afável e compassivo. sentia-se bem entre os animais. sentia-se bem entre os animais. entre seres que não lhe mostrassem papéis nem lhe contassem segredos nem exigissem nem perdoassem nem criassem expectativas nem chorassem a olhos vistos nem consolassem – possuindo dentro do olhar a grandeza de uma sabedoria nunca revelada nunca desmentida.
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No "planeta dos macacos", Templo Kao Nor, província de Nakorn Sawan, Tailândia.